Preservar para Não Esquecer: Avacir Gomes dos Santos Silva e a Memória Viva do Vale do Guaporé

A força da escrita como instrumento de identidade, cultura e resistência na Amazônia rondoniense
Há 1 dia
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Quantas histórias do interior da Amazônia você já ouviu contadas por quem realmente viveu ali? Neste episódio especial do RolimCast, recebemos a professora, escritora e pesquisadora Avacir Gomes dos Santos Silva, docente no curso de Pedagogia da UNIR – Campus Rolim de Moura, que nos leva por uma viagem emocionante através da escrita, da memória e da cultura amazônica.

Avacir compartilha como transformou sua paixão pela escrita em um poderoso meio de valorização e preservação das histórias da região do Vale do Guaporé, revelando personagens, tradições e saberes que resistem ao tempo – mas que correm o risco de desaparecer.

A Escrita como Caminho e Missão 
“Escrever é cristalizar a memória”, afirma a professora Avacir, ao contar como suas experiências na educação e na pesquisa acadêmica a impulsionaram a eternizar as histórias de seu povo. Desde as primeiras redações na infância até a publicação de sua tese de doutorado transformada no livro Culturas Desviantes – As Andanças Amazônicas pelo Vale do Guaporé, Avacir enxerga na escrita um ato de resistência cultural.

 Livros que Contam o que a História Oficial Esqueceu 
Entre seus principais títulos, Avacir destaca três obras marcantes:

Culturas Desviantes – fruto do doutorado, mergulha nas comunidades ribeirinhas do Vale do Guaporé;

Cacaio e Sonhos – Histórias dos Narradores do Vale do Guaporé – resultado de entrevistas com pioneiros e migrantes que colonizaram a região entre os anos 1970 e 1980;

Os Guardiões dos Santos Reis no Vale do Guaporé – registro único da tradição das folias de reis, uma herança cultural trazida por migrantes do Sudeste e Nordeste.

Cada publicação nasce de pesquisas profundas, observações de campo e, principalmente, do respeito pelas vozes locais.

Avacir também destaca a efervescência atual da cena literária no Vale do Guaporé. No Segundo Encontro de Escritores da Região, ela testemunhou a diversidade e força de autores de todas as idades – desde crianças até senhores de mais de 80 anos. Para ela, o mito de que os jovens não gostam de ler ou escrever está sendo derrubado por talentos que emergem com produções inovadoras e estilos próprios.

Apesar da criatividade pulsante, a publicação de livros ainda enfrenta barreiras sérias na região:

Falta de editoras locais com suporte editorial completo;

Alto custo de impressão, principalmente para livros com imagens ou mapas;

Dificuldade de acesso ao ISBN e ficha catalográfica;

Pouco apoio institucional para novos autores.

Avacir compartilha alternativas e experiências com editoras como a Temática, de Porto Velho, além de reforçar a importância de começar pequeno: com crônicas, poemas, relatos e, aos poucos, amadurecer a voz literária.

Um Sonho em Construção: Academia de Letras do Vale do Guaporé 
Como legado e passo fundamental para a consolidação da literatura regional, Avacir está à frente do projeto de criação da primeira Academia de Letras do Vale do Guaporé, em parceria com nomes como Milene Mota e Carlos Neves. A proposta é reunir escritores locais, organizar antologias históricas e ampliar o espaço de valorização da cultura escrita.
A história contada por Avacir Silva é mais que um relato de carreira – é um manifesto sobre a urgência de preservar memórias que correm o risco de se apagar. No papel, essas memórias ganham forma, voz e permanência.

 E agora é com você:
Você conhece alguém que guarda boas histórias sobre o Vale do Guaporé? Já pensou em transformar suas memórias em livro? Comente, compartilhe e inspire-se com esse exemplo poderoso de quem escreve para não deixar a cultura morrer.