Especialistas apontam desafios para a comunicação segura sobre suicídio

A Frente Parlamentar Mista para Promoção da Saúde Mental promoveu palestras sobre o assunto na Câmara
27/09/2024 08:17
 | Fonte: Foto: Renato Araujo/Câmara dos Deputados
Foto: Renato Araujo/Câmara dos Deputados

A Frente Parlamentar Mista para Promoção da Saúde Mental promoveu nesta quinta-feira (26), na Câmara dos Deputados, um ciclo de palestras sobre os desafios para a comunicação segura sobre suicídio.

O presidente da frente, deputado Pedro Campos (PSB-PE), destacou que o mundo passa por uma crise de saúde mental. O deputado disse que entre as prioridades da frente estão projetos de lei com medidas para o combate ao suicídio de crianças e adolescentes (PL 1773/22) e a promoção da saúde mental dos profissionais da saúde (PL 4724/23). "Novas legislações que possam garantir a saúde mental e que possam prevenir o suicídio.”

Fundadora do Instituto Vita, Karen Scavacini defende que os meios de comunicação tratem o tema com mais sensibilidade. Ela também já foi diretora científica da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio e cita como exemplo ruim a capa de uma revista de celebridades que trouxe como manchete “A atriz que morreu por amor”. A especialista alertou para o risco de uma história como essa viralizar por conta da romantização da notícia.

Karen enumerou os erros cometidos pela publicação na abordagem do caso: colocou na capa a foto da celebridade e publicou a carta de despedida que havia sido dirigida à revista. "Suicídio de celebridade costuma receber atenção especial da mídia e quanto maior a identificação de uma pessoa vulnerável com o ídolo, maior a probabilidade de ser influenciada a fazer a mesma coisa", alertou.

Entre as recomendações da especialista para publicação de notícias sobre suicídio estão: não tratar o assunto na primeira página, tampouco usar a palavra suicídio na chamada, ou usar fotos e dar detalhes; jamais usar fotos grandes, principalmente se a pessoa que se matou for jovem e bonita; e não publicar cartas de despedida, para não servirem de exemplo.

Ela considera válido, entretanto, apresentar histórias de superação e relatos de famosos que já pensaram em pôr fim à vida ou que já perderam alguém. Outra sugestão de Karen é que reportagens sobre suicídio privilegiem entrevistas com especialistas, em vez de policiais e socorristas, e sempre que possível informem locais onde a pessoa pode procurar ajuda, como o Centro de Valorização da Vida, cvv.org.br ou telefone 188.

Internet
O usuário de internet tem um papel ainda mais importante, segundo Karen Scavacini. O internauta, conforme ela, costuma ser o maior divulgador desse tipo de informação. Ela recomenda que nunca se compartilhem cenas, vídeos ou detalhes de um suicídio.

Dados do Ipea, colhidos entre 1980 e 2009, mostram que os meios de comunicação foram o terceiro motivador de suicídio, depois de desemprego e violência. A pesquisa aponta que o aumento de 1% da cobertura da mídia em relação ao assunto representou o aumento de 5,34% na taxa de suicídio de homens jovens entre 15 e 29 anos.

Mas isso não significa que o tema não deve ser tratado. “Porque na hora que a gente ensina as pessoas a falar abertamente e da forma correta, da forma segura, a gente pode ajudar até a diminuir o número de casos", ponderou Karen.

Na internet, segundo a especialista, as pessoas podem ajudar na prevenção ao suicídio. "Não adianta a gente colocar esse tema que ainda é muito tabu no silêncio, porque a gente não vai ajudar as pessoas ao não falar. A gente pode mostrar os sinais e onde obter ajuda”, completou

Redes sociais
A diretora de relações institucionais do Redes Cordiais, Gabriela de Almeida, afirma que é importante prestar atenção ao tempo gasto no consumo de redes sociais, equilibrar o tempo online e entender como o conteúdo afeta a saúde mental.

“Um uso equilibrado é aquele em que a gente não fique muito refém. Cancelar o máximo de notificações que você puder vai ajudar a ter uma relação mais saudável com as redes sociais e com a internet”, sugeriu.

Prevenção
A Lei 13.819/19 instituiu a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio e a Portaria 2.493/20 instituiu o Comitê Gestor da Politica Nacional de Prevenção da Automitilação e Suicídio.

Coordenadora Geral de Vigilância e Prevenção de Violências e Acidentes e Promoção da Cultura de Paz do Ministério da Saúde, Naísa Sá considerou o debate importante para subsidiar novos materiais do ministério a serem feitos no futuro. "Repensar as nossas formas de atuação e de comunicação de prevenção ao suicídio e falar sobre suicídio durante todo ano, não apenas durante o Setembro Amarelo.”

As palestras sobre o tema vão estar disponíveis na página da Frente Parlamentar Mista para Promoção da Saúde Mental.