Rio Madeira registra menor nível em quase 60 anos
Rio Madeira atingiu a cota de 1,02 metro durante a madrugada de terça-feira (03). Apesar de ter batido a marca histórica, o nível está em oscilação por conta do fenômeno de repiquete.
O rio Madeira atingiu a cota de 1,02 metro durante a madrugada desta terça-feira (03) em Porto Velho, de acordo com o monitoramento do Serviço Geológico do Brasil (SGB). A medição é a menor já registrada desde que o nível do rio começou a ser monitorado em 1967.
O Rio Madeira é um dos maiores do mundo e passa por três países: Brasil, Bolívia e Peru.
A última vez que o Madeira tinha chegado a um nível tão baixo foi em 2023, quando atingiu 1,09 metro. Desde então, especialistas já previam uma seca ainda mais severa para 2024.
Desde julho deste ano o Madeira vem batendo uma sequência de mínimas históricas. Nessa época do ano o rio deveria estar em cerca de 3,80 metros, ou seja: está quase três metros abaixo do esperado. Esses dados são do Sistema Integrado de Monitoramento e Alerta Hidrometeorológica (SipamHidro).
A seca ocorre em meio a um período de estiagem extrema. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Porto Velho está há três meses sem chuvas significativas. A última chuva com um volume considerável foi em 25 de maio.
Mas o que causa essa escassez? Segundo Marcus Suassuna, pesquisador em Geociências pelo SGB, dois fatores são determinantes:
- Oceano Atlântico Norte mais aquecido que o normal, e mais quente que o Atlântico Sul, que inibe a formação de nuvens de chuva.
- Fenômeno El Niño, que causa atrasos no início da estação chuvosa e enfraquecimento das chuvas iniciais do período.
Segundo a Defesa Civil Municipal, ribeirinhos do Médio Madeira são os mais afetados pela seca. Sem água encanada, eles dependem de poços amazônicos, que secaram com a chegada da estiagem.
“Às vezes a gente precisa abrir um buraco para apanhar um pouquinho de água pra poder lavar uma louça, tomar um banho. E é contado, a situação pra nós tá difícil”, revela Raimundo, morador do distrito de São Carlos, em Porto Velho.
Às margens de um dos maiores rios do Brasil, famílias ribeirinhas vivem com menos de 50 litros de água por dia em razão da seca histórica. A quantidade é menos da metade dos 110 litros por dia considerados pela Organização das Nações Unidas (ONU) como necessários para suprir as necessidades básicas de apenas uma pessoa.
Na comunidade Maravilha, um Igarapé secou, causando a morte de dezenas de peixes e dificultando o acesso à água para os moradores da região. O mesmo local que Conceição e a família usavam para atividades diárias e momentos de diversão, como banhos, se tornou em um cenário devastador: um cemitério de peixes.
“[O igarapé] Secou pra gente que é humano, para os peixes e pros bichos. Pássaro, capivara, macaco: tudo vai beber água no igarapé e aí como está seco eles estão sofrendo do mesmo jeito que a gente está sofrendo”, relata Conceição, que mora próximo ao Igarapé.
Rio Madeira e geração de energia
O Madeira abriga duas das maiores usinas hidrelétricas do Brasil: Jirau e Santo Antônio, que representam cerca de 7% da capacidade de geração do sistema elétrico brasileiro. As duas fazem parte do Sistema Interligado Nacional (SIN) e geram energia para todo país.
A ANA já admitiu a possibilidade de paralisação da hidrelétrica de Santo Antônio por causa da seca. O risco se deve ao funcionamento da usina, em formato de “fio d’água”, que não armazena muita água em seu reservatório e depende do fluxo do rio para manter as turbinas em funcionamento.