Rondônia faz primeiro transplante ósseo do Norte; entenda como funciona cirurgia que usa 'parte' de cadáver

Paciente é um homem de 30 anos que sofreu uma fratura exposta na perna. Hospital de Base, em Porto Velho, é o único da região Norte credenciado a realizar o procedimento.
18/04/2024 16:14
Atualizado 18/04/2024 16:15
 | Fonte: Foto: Sara Caslow/Sesau Rondônia
Foto: Sara Caslow/Sesau Rondônia

O primeiro transplante ósseo da Região Norte foi realizado na quarta-feira (17) no Hospital de Base Ary Pinheiro, em Porto Velho. A cirurgia, que utiliza ossos de um doador cadáver, aconteceu em um homem de 30 anos que sofreu uma fratura exposta na perna direita.

O procedimento foi realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e os ossos vieram do banco de tecidos musculoesqueléticos do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), localizado no Rio de Janeiro.

De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Rondônia (Sesau), o paciente possuía uma falha óssea muito extensa e a única solução encontrada para tratar o caso foi um transplante de osso.

A coordenadora do transplante ósseo do Hospital de Base, Thais Santos, explicou ao g1 que a cirurgia realizada no paciente foi a de "enxerto ósseo homólogo", que envolve o uso de partes de ossos retirados de uma pessoa que recebeu um diagnóstico de morte cerebral.

Como acontece o procedimento?
De acordo com a chefe da área de processamento e manejo tecidual do Into, Tatiana Gargano, não é necessário que o osso do doador cadáver seja compatível com o receptor. Após a coleta e armazenamento no banco, o tecido é limpo e perde a identificação do sistema de origem.

"Para que esse tecido ósseo esteja pronto, precisa passar por um procedimento denominado processamento, para que esteja apto a ser transplantado. Este processamento ocorre no Banco de Multitecidos do Into. O risco de rejeição nesse tipo de procedimento é mínimo", explica Tatiana.


Além disso, a parte do osso doada não precisa, necessariamente, ser a mesma do local onde será colocado, nem do mesmo tamanho. No momento do procedimento, é feita uma reestruturação com várias partes de ossos de locais diferentes.

Essa técnica ajuda na regeneração de ossos danificados ou perdidos devido a lesões e doenças. Por isso, após os meses de recuperação, o paciente voltará a locomover a área da cirurgia e a realizar suas atividades cotidianas.

Como ter acesso ao transplante?
Segundo a Sesau, o transplante atenderá pacientes que aguardam pelo procedimento ortopédico na fila de espera do SUS. A cirurgia é realizada para correção e regeneração de falhas em decorrência de traumas ou deformidades congênitas.

Para realizar o transplante ósseo em Rondônia, é necessário que o paciente esteja cadastrado no SUS e com o registro de saúde atualizado. Para isso, é preciso:

  1. Ir até uma Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima e passar por uma consulta com o médico da família;
  2. Após o diagnóstico, o paciente será encaminhado para avaliação;
  3. Coordenação entrará em contato por ligação ou WhatsApp para agendar uma consulta com o médico especialista em transplantes
  4. Usuário será inserido na fila de espera e passará por exames preparatórios pré-cirurgia.


Como ser um doador?
De acordo com o Into, o procedimento para doação de ossos é parecido com o de outros órgãos: o doador deve comunicar a decisão à família, que autoriza a retirada do tecido no caso de morte.

Pioneiro no transplantes ósseo no Norte
De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Rondônia (Sesau), o Hospital de Base (HB), em Porto Velho, é o único na região Norte credenciado a fazer esse tipo de intervenção cirúrgica por meio do Sistema Nacional de Transplantes (SNT).

Por ser o único hospital credenciado pelo SNT na região Norte, o instituto estipulou que o HB seja o “ponto-satélite” para receber todos os tecidos e fazer a distribuição aos hospitais do Acre, Amazonas, Pará e Roraima ( devido à facilidade logística).

Para dar início ao processo da implementação das cirurgias em Rondônia, em 2023 houve uma capacitação com os profissionais do HB. O treinamento foi no Into, do Ministério da Saúde, no Rio de Janeiro.