SUS precisa atualizar protocolo de tratamento de edema macular diabético, cobram especialistas
Assunto foi debatido nesta quinta-feira na Comissão de Saúde da Câmara
Os pacientes de edema macular diabético (EMD) passam por desafios no Sistema Único de Saúde porque algumas necessidades não são atendidas pelos protocolos clínicos do SUS. A reclamação foi feita por médicos e representantes de entidades médicas nesta quinta-feira (11) em audiência pública na Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados. Os profissionais também alertaram sobre a falta de campanhas de prevenção e tratamento da doença.
A retinopatia diabética é uma complicação do diabetes mellitus e é considerada a principal causa de cegueira em pessoas em idade produtiva. Quando as lesões de retinopatia ocorrem na mácula (região central da retina) provocam o edema macular, que pode levar à cegueira se não for diagnosticada e tratada precocemente.
Entre os tratamentos previstos estão injeções intravítreas, fotocoagulação a laser e colírios de corticoides.
O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas em Retinopatia Diabética (PCDT) recomenda medicamentos intravítreos e às vezes com fotocoagulação a laser, mas alguns grupos não se beneficiam desses tratamentos e precisam de um implante, o que não está disponível no SUS.
De acordo com o deputado Dr. Zacharias Calil (União-GO), que pediu a audiência pública, o SUS precisa se atualizar para preservar a visão e a qualidade de vida dos pacientes. “É fundamental que o SUS revise e atualize seus protocolos clínicos para incluir diretrizes claras e abrangentes para o diagnóstico, tratamento e acompanhamento do edema macular. Além disso, é necessário garantir um sistema de financiamento adequado que cubra os custos”, disse.
O Brasil está na sexta posição entre os países com mais casos de diabetes. Em 2021, estimou-se que 3 a cada 20 pessoas (15,7%) da população adulta entre 20 e 79 anos no Brasil tinha diabetes. Até 2045, a projeção é de 1 em cada 4 (23,2%) com diabetes.
Atendimento centralizado
Existem hoje no Brasil 15.523 oftalmologistas e 5.888 endocrinologistas, segundo estudo de demografia médica da Universidade de São Paulo (USP). A maioria está nas grandes cidades, o que deixa populações do interior desassistidas.
Segundo dados fornecidos pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), em 2023 sete unidades da Federação não forneciam atendimento.
Prevenção
A Coordenadora da Coalizão Vozes do Advocacy, Vanessa Pirolo, lembra que, se o Estado investir mais na prevenção, o número de pessoas improdutivas pode cair. “[Se a pessoa tiver a doença], vai requerer do Estado uma aposentadoria antecipada, vai precisar de cuidador, de investimento, e esse custo vai aumentar assustadoramente no futuro. Precisamos trabalhar com a prevenção", aponta. De acordo com Vanessa, os gastos hoje com diabetes superam 43 bilhões de dólares ao ano, e 60% desse valor cobre complicações da doença.
O coordenador do Departamento de Doenças Oculares da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Fernando Korn Malerbi, acredita que, para diminuir o problema, é necessário ter programa amplo e universal de rastreamento da doença, mas, segundo ele, falta sensibilidade de clínicos gerais e endocrinologistas para encaminhar diabéticos para o oftalmologista. Ele estima que 16 milhões de brasileiros precisariam fazer exame uma vez por ano para saber se têm ou não doença na retina que ameace a visão.
O presidente da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo, Arnaldo Furman Bordon, endossa a fala sobre a prevenção. “Nós temos uma doença que é prevenível, ela pode ser evitada quando detectada em sua fase precoce, porém estamos com problemas crônicos de acesso dessa população ao Sistema Único de Saúde, que é um excelente sistema.”
Complicações
De acordo com um estudo publicado em 2019 pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia, o desenvolvimento de complicações oculares está fortemente relacionado ao tempo de diabetes. Após 15 anos do estabelecimento do diabetes, cerca de 10% das pessoas desenvolvem perda visual grave, e cerca de 2% se tornam cegas. Com 20 anos de doença, estima-se que mais de 75% dos pacientes tenham alguma forma de retinopatia diabética.