Após receber um vídeo mostrando um homem de 77 anos caindo em frente a sua casa, em Vilhena, e de confirmar que o idoso morreu, aparentemente vítima de um infarto, o site buscou mais informações sobre o caso, que se revelou uma tragédia que teria sido causada por uma conta de luz no valor de R$ 318,50.
Segundo a viúva do lanterneiro Domingos C. de O., com quem ela vivia há 21 anos, na manhã da última sexta-feira, 12, uma equipe da Energisa foi até a residência de “Baiano”, como o ancião era conhecido, e cortou a luz. O imóvel do casal fica no bairro Aripuanã, Setor 23, em Vilhena.
Nervoso, o idoso saiu e explicou que não havia nenhum talão em atraso, mas a equipe da empresa alegou que estava “apenas cumprindo ordens” e que a dívida dele “constava no sistema”. O bate-boca quase termina em tragédia, segundo a viúva contou à reportagem.
A mulher diz que um funcionário da companhia pegou um facão e chegou a aplicar um mata-leão em Domingos, que usava um pedaço de pau para tentar se defender. A Polícia Militar foi acionada, mas a discussão continuou, até D. cair.
Após tentar reanimar o velho lanterneiro, um filho dele, um rapaz de 20 anos, o coloca no carro da família, antes da chegada do Corpo de Bombeiros. Mas, quando chegou à UPA para receber atendimento médico, o idoso, que morava na área rural de Machadinho do Oeste antes de se mudar para Vilhena 18 anos atrás, já estava sem vida.
DÍVIDA PAGA
A viúva contou ao site que, no ano passado, quitou o débito de R$ 318,50 que a Energisa atribuía a ela e ao marido. Os dois foram juntos até a unidade da empresa em Vilhena e fizeram o pagamento, mas o comprovante não saiu.
“Eles alegaram que o sistema estava lento, mas que se a gente voltasse depois, entregariam o comprovante. Voltamos várias vezes lá e eles nunca resolviam o problema”, relata a mulher, acrescentando que, mesmo tendo quitado a dívida, os talões sempre vinham mostrando o débito. E, apesar da insistência dela e do marido, a situação perdurava.
VAI PARAR NA JUSTIÇA
“Não vou conseguir trazer meu marido de volta, mas pelo menos espero que ninguém mais passe por essa dor”, diz a viúva, ao anunciar que levará o caso à justiça, onde cobrará indenização pela perda.
A mulher conta que, enquanto o marido passava mal, um funcionário da Energisa debochava da situação, alegando que o idoso, que deixa outros 11 filhos do casamento anterior, estaria “fazendo teatro e drama”. Este mesmo empregado teria dito: “é só passar um perfume no nariz que ele volta”.
O corpo de D. foi sepultado no dia seguinte ao incidente fatal. “Ele morreu nos meus braços, antes de ser socorrido. Senti isso quando ele deu dois suspiros fortes e depois seu corpo relaxou”, conta a companheira. Embora no Atestado de Óbito conste “causa indeterminada”, ela não tem dúvidas de que o marido morreu em virtude do stress causado pela discussão.
Imagens de câmeras instaladas numa residência próxima mostram a queda do idoso durante a discussão na presença de policiais e o esforço do filho para reanimar Domingos.