Enem 2025: Inep adota modelo testlets na elaboração das provas

Método inédito avalia análise crítica e raciocínio lógico do candidato
Há 1 hora
 | Fonte: Foto: © Jose Cruz/Agência Brasil
Foto: © Jose Cruz/Agência Brasil

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) adotou, pela primeira vez, o modelo testlets para elaboração das 90 questões de linguagens e ciências humanas do primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2025.

O anúncio foi feito pelo ministro da Educação, Camilo Santana, em coletiva de imprensa na sede do instituto, em Brasília, após a aplicação do primeiro dia de provas do exame, no último domingo (9).

Na prova, a nova metodologia agrupa questões variadas relacionadas a um mesmo texto-base.

O objetivo da mudança é avaliar melhor os conhecimentos do participante adquiridos ao longo da formação escolar, justifica o Inep.

Expansão do uso
No próximo domingo (16), os inscritos no Enem farão o segundo dia de provas em mais de 1,8 mil municípios das 27 unidades da federação. Porém, o Inep não confirma se o modelo foi aplicado na elaboração das 90 questões de matemática e de ciências da natureza (biologia, química e física) destas provas.

"O Inep não divulga previamente informações sobre prova por questões de segurança e sigilo", respondeu em nota à Agência Brasil.

No entanto, a diretora de Avaliação da Educação Básica do Inep, Hilda Linhares, afirmou que o plano é expandir o uso do modelo testlets.

“Espera-se que, a partir desta edição, esse modelo seja adotado não apenas para a área de linguagens, na qual ele foi aplicado em 2025, mas também para outras áreas de conhecimento.”

Entenda o uso
O formato testlets busca analisar a capacidade do participante de compreender e usar informações para demonstrar o conhecimento adquirido. Este tipo de abordagem na avaliação engloba desde a interpretação literal até inferências e aplicações de conceitos.

Apesar de um mesmo texto-base vincular, em bloco, diversas questões a ele, não existe dependência entre as respostas, ou seja, não apresenta elementos que possam ser considerados para a resposta de outra questão.

De acordo com o Inep, a iniciativa permite:

·  redução do tamanho da prova;

· evitar o desperdício de esforço na leitura de vários excertos de texto.

· Permitir a leitura e a análise de textos mais próximos à integridade da fonte primária;

· abordagem de contextos com maior complexidade;

·  avaliação de tarefas cognitivas mais complexas.

Veja os PDFs dos cadernos de questões do primeiro dia de provas do Enem 2025 aqui, com a aplicação do novo formato testlets.

Avaliação da metodologia
A Agência Brasil buscou a opinião de especialistas sobre o modelo testlets no Enem. A diretora de Avaliações da Arco e porta-voz da plataforma de ensino SAS Educação, Camila Karino, disse que o uso do modelo Testlet pelo Inep no Enem lhe surpreendeu porque, até a última edição, o instituto vinculado ao Ministério da Educação (MEC) usava um formato padronizado, onde cada questão da prova do Enem tinha um texto-base como enunciado e, logo abaixo, as alternativas para escolha da resposta correta pelo candidato.

Apesar de não imaginar a mudança expressiva na construção das questões da prova, a diretora vê a metodologia como “um avanço no modelo avaliativo e que não há desvantagens claras.”

Com a mudança, Camila Karino entende que o principal benefício do Testlet para o contexto do Enem é permitir a avaliação de habilidades mais complexas.

“Quando se tinha um texto-base por questão, era necessário escolher texto menores, impedindo avaliar compreensões mais profundas.  Este novo formato permite textos mais densos, o que eleva o nível da prova.”

Porém, ela acredita que a adoção de um texto base não irá impactar no tamanho e no tempo de prova. “Os textos se tornarão mais densos”, prevê.

Este modelo que usa um mesmo texto-base para uma sequência de perguntas não é novidade no Brasil. Os processos seletivos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a Universidade Estadual Paulista (Unesp), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Estadual do Ceará (Uece), vestibular da Fuvest [Fundação Universitária para o Vestibular], que seleciona para a Universidade de São Paulo (USP), além do Programa de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de Brasília (UnB) já apresentavam esse formato.

“No entanto, esses processos não exploram todo o potencial dos testlets. Tenho uma aposta de que o Inep esteja apontando em uma nova tendência para edições futuras do exame, assim como o Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Estudantes] já vem utilizando”, projeta a diretora Camila Karino.

Teoria de Resposta ao Item
Em entrevista à Agência Brasil, a educadora explica que o modelo testlets não pode ser confundido com a Teoria de Resposta ao Item (TRI).

Para cálculo das notas, há anos, o Inep adota este modelo matemático que considera a coerência das respostas corretas do participante e identifica a consistência da resposta, conforme o grau de dificuldade de cada questão.

“A Teoria de Resposta ao Item (TRI) é a metodologia de análise utilizada para estimar a proficiência dos estudantes. Ela não define o formato.”

Entenda como é calculada a nota das provas objetivas do Enem 2025 pela Teoria de Resposta ao Item, que considera coerência de respostas corretas.

O Enem
As notas finais do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) podem ser usadas para acesso a universidades públicas, em diversas modalidades; para concorrer a bolsas de estudo integrais e parciais em universidades privadas; para pleitear o crédito estudantil para o pagamento das mensalidades de faculdades privadas; para ingresso sem vestibular em faculdades; para estudar em Portugal; para autoavaliação pelo treineiros; e para certificação de conclusão do ensino médio ou declaração parcial de proficiência nessa etapa do ensino básico.